Hitória do Convento
Embora tenha o nome de S.Bento dos Arcos, cuja imagem era e é tida por milagrosa, este convento, situado na freguesia do Divino Salvador da Vila dos Arcos, nunca foi de Beneditinos, mas dos religiosos franciscanos, conhecidos por Frades Capuchos da Província da Conceição de Portugal.
O nome de S.Bento veio-lhe de uma antiga capela deste santo, que se diz restaurada pelo abade dos Arcos P.e João de Lima Melo.
A fundação deste convento atribui-se, em geral, a bento Cerveira Baião, que nele teria gastado boa parte da fortuna que trouxera do Brasil. Todavia, as informações mandadas pela Província dos Capuchos da Imaculada Conceição de Portugal para a Real Academia da História ,no tempo de D. João V.
A divergência de opiniões quanto aos fundadores do convento parecem-me facilmente conciliáveis, atendendo ao que escreveram o P.António Carvalho da Costa, que é quase contemporâneo da fundação e redigiu o vol.I da sua Corografia Portuguesa nos fins do séc. XVII (a 1.ª edição é de 1706, mas a primeira licença do Santo Ofício foi dada a 1 de Janeiro de 1701), e o P. Luís Cardoso, que aproveitou no seu Dicionário Geográfico as informações enviadas pelos párocos.
Ora, tanto um como outro dizem que o convento foi fundado “à custa de Bento Cerveira Bayão”, mas sem lhe atribuírem a fundação propriamente dita, que só podia ser feita pela Ordem religiosa a que o convento ficou a pertencer. Bento Cerveira Baião foi, portanto, o benfeitor que tornou possível aos Frades Capuchos da Conceição abrir um novo convento nos Arcos de Valdevez, embora, sob o aspecto material, ele se possa considerar também fundador.
Nos autores citados em nota há divergência também quanto ao ano da fundação – 1677 ou 1678, devendo o primeiro referir-se ao inicio das obras: “Derão princípio a ella em o anno de 1677”, e o segundo è entrada dos primeiros religiosos.
Atendendo, porém, às datas existentes no edifício, as obras devem ter começada em 1674 e terminado em 1726, porque o primeiro ano está gravado numa porta exterior do lado esquerdo (obra anterior, portanto, à do inicio do convento), e o segundo encontra-se na grade de ferro do galilé da Igreja.
Em 1758, era padroeiro do Convento João Bento Pimenta Galvão, pertencente, talvez, `família do fundador.
Verificando que a feira do gado, que se realizava nos dias 3 e 14 de cada mês, junto do convento, perturbava os religiosos e dificultava a vinda dos fiéis a Igreja para assistirem aos ofícios divinos e receberem os sacramentos, pediram a D.João VI que a feira fosse mudada para outro local.
Ouvidas as autoridades e os interessados na feira, verificou-se que não havia outro local conveniente para ela, motivo por que o rei, por Provisão de 25 de Maio de 1821, se limitou a mandar que a feira se deslocasse mais para o lado do poço e monte de S.Bento de modo a deixar livre o acesso ao convento.
Em 1834, o convento estava, por conseguinte, cheio de religiosos e em plena actividade, sendo um importante centro não apenas de vida religiosa (repare-se que um dos motivos alegados em 1821 para afastar a feira do convento era esta dificultar o acesso aos fiéis que o frequentavam) mas também de cultura como se comprova pela importante biblioteca que então possuía e pelos estudos que nele se ministravam.
O inventário menciona com efeito, 1.540 volumes, que ocupavam 18 estantes da livraria. Entre os livros figuram obras de Teologia dogmática, moral e mística, da Sagrada Escritura, de Direito, de História e dos diversos ramos do saber humano então em voga. Os sermões e obras de carácter religioso ocupavam, como era de esperar, lugar importante. Apesar do seu incontestável valor, o inventário atribui preços ridículos a esta livraria, que, se não tivesse sido desbaratada, podia constituir hoje um importante núcleo da biblioteca municipal dos Arcos.
As breves informações transmitidas pelos Inquéritos de 1824 e de 1845, revelaram-me, com grata surpresa, que no convento de S.Bento dos Arcos funcionou uma escola de ensino primário, médio e superior.
O edifício do convento foi requisitado pelo Governador Civil para Tribunal. Posteriormente, a Misericórdia requisitou-o para nele instalar o hospital. Mandou-se consultar a Junta por portaria do Ministério da Fazenda de 13 de Fevereiro de 1814 (Processo N.º1943 P.es). Como nenhuma destas duas requisições foi atendida, mandou-se vender o convento e a cerca.
Sobre a igreja de S.Bento, cujo santo deu o nome a um lugar e a uma fonte, o arcipreste dos Arcos deu a seguinte informação, a 15 de Dezembro de 1845: “A igreja, outrora pertencente ao convento de S.Bento dos Menores Reformados, situada em hua bella posição pouco distante da villa e dominado-a toda com um só golpe de vista, hoje pertencente à ordem Terceira, está segura, decente e tem os paramentos necessários e decentes “
Fr. Manuel da Conceição, Fr. Francisco das Chagas e Bento Cerveira Baião que, fundando este convento, tornaram possível haver na vila dos Arcos um importante centro de cultura e uma escola de ensino primário, médio e superior.